Massificação do ensino
13/09/2012 14:36
As frequentes e justas críticas ao Ensino Básico (Fundamental e Médio), mostrando o problema crônico em que se transformou, são um claro indicador de que as nossas autori-dades da Educação, em sucessivos governos, só fizeram mudanças para piorar. Chega-mos ao ponto de uma inversão total, colocando o ensino público, que era o melhor, atrás do particular. O populismo que quis combater as elites através da universalização do ensi-no público, apenas o massificou, universalizando com menor qualidade. Quem saiu favo-recido foi o ensino particular, para onde correu a elite. A universalização do ensino básico precisa ser encarada como um projeto de nação e não de governo. Os governos mudam e cada um quer realizar o seu projeto, geralmente desfazendo o que de bom já existe. Um projeto de nação deve atravessar governos. É o que tem feito alguns países do terceiro mundo emergirem com rapidez, como é o caso da Coréia do Sul, e de gigantes adormeci-dos acordarem, que é o caso da China. O que fez esses países engrenar o desenvolvi-mento não foi o ensino superior, foi o ensino fundamental, que faz os indivíduos saberem ler, escrever e calcular. O ensino fundamental é independente, o médio e o superior de-pendem dele. Ele é a base, a fundação sobre a qual se assentam as outras etapas do processo educativo.
A proposta populista de universalização do ensino superior, com quotas no ensino público e financiamento no ensino particular, para permitir o acesso, sem a rigorosa con-trapartida do merecimento pelo esforço, está levando esse nível de ensino a trilhar o mesmo caminho regressivo do ensino fundamental. O aumento de graduados e pós-graduados não alterou, para melhor, a relação entre os bem preparados e os que apenas têm o diploma. Os dois segmentos aumentaram, o que é lógico, pelo aumento da popula-ção e de oportunidades, mas os bem preparados, exigidos para o país subir de patamar, ainda estão longe da meta necessária. Além de estar quantitativamente abaixo do que o país precisa, há comparativos internacionais que indicam que apenas 33% dos pós-graduados atingem o nível de qualidade internacional.
Uma consequência dessa situação foi a transformação da educação num grande negócio. Formaram-se grandes corporações educacionais, criando um mercado de fusões e aquisições que gira bilhões de reais. Faculdades e universidades são avaliadas formando-se o preço pelo valor/aluno, com cotação no ranking preferencial de cursos pelo segmento da população com reduzida capacidade de competir, seja por falta de recurso, seja por pouca vontade de estudar. Uma outra consequência, ligada a esta, foi a expansão da educação a distância – EAD, a ponto de fazer uma universidade de Londrina, a Unopar, a atingir mais de 160 mil alunos nessa modalidade e ser adquirida pelo grupo Kroton Educacional por R$ 1,3 bilhão.
O ensino a distância é uma forma que dispensa a presença conjunta professor/aluno, hoje muito facilitada pela Internet. Pode dar bons resultados, se reunir duas condições fundamentais: a primeira é boa preparação no Ensino Fundamental ou no Básico, conforme o nível do curso. Um exemplo é do Instituto Monitor, criado pelo húngaro Nicolás Goldberger, em 1939, que ao longo dos anos preparou quase 6 milhões de técnicos. Nossos primeiros radiotécnicos foram preparados por ele, pelo correio. A segunda é o interesse em aprender e a disposição para o esforço exigido. Um bom exemplo tivemos com a Faculdade de Direito de Bauru, da Instituição Toledo de Ensino. No seu começo tanto havia alunos presenciais como alunos que compareciam uma vez por mês para receber orientação e realizar os exames, nada complacentes. Eminentes juristas, advogados, juízes, desembargadores e outros profissionais ali se formaram sem distinção dos que frequentavam ou não as aulas.
Contudo, o que é mais de se esperar, nesse ‘boom’ de oferta de EAD, o bom ou o mau exemplo? Ainda mais com as facilidades de selecionar e colar, oferecidas pela Internet. Em todo caso, se o Ensino Fundamental vier a merecer o tratamento devido, alguma coisa de bom sempre acontecerá.
O autor, Pedro Grava Zanotelli, é ex-presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas de Bauru e membro da ABLetras
A proposta populista de universalização do ensino superior, com quotas no ensino público e financiamento no ensino particular, para permitir o acesso, sem a rigorosa con-trapartida do merecimento pelo esforço, está levando esse nível de ensino a trilhar o mesmo caminho regressivo do ensino fundamental. O aumento de graduados e pós-graduados não alterou, para melhor, a relação entre os bem preparados e os que apenas têm o diploma. Os dois segmentos aumentaram, o que é lógico, pelo aumento da popula-ção e de oportunidades, mas os bem preparados, exigidos para o país subir de patamar, ainda estão longe da meta necessária. Além de estar quantitativamente abaixo do que o país precisa, há comparativos internacionais que indicam que apenas 33% dos pós-graduados atingem o nível de qualidade internacional.
Uma consequência dessa situação foi a transformação da educação num grande negócio. Formaram-se grandes corporações educacionais, criando um mercado de fusões e aquisições que gira bilhões de reais. Faculdades e universidades são avaliadas formando-se o preço pelo valor/aluno, com cotação no ranking preferencial de cursos pelo segmento da população com reduzida capacidade de competir, seja por falta de recurso, seja por pouca vontade de estudar. Uma outra consequência, ligada a esta, foi a expansão da educação a distância – EAD, a ponto de fazer uma universidade de Londrina, a Unopar, a atingir mais de 160 mil alunos nessa modalidade e ser adquirida pelo grupo Kroton Educacional por R$ 1,3 bilhão.
O ensino a distância é uma forma que dispensa a presença conjunta professor/aluno, hoje muito facilitada pela Internet. Pode dar bons resultados, se reunir duas condições fundamentais: a primeira é boa preparação no Ensino Fundamental ou no Básico, conforme o nível do curso. Um exemplo é do Instituto Monitor, criado pelo húngaro Nicolás Goldberger, em 1939, que ao longo dos anos preparou quase 6 milhões de técnicos. Nossos primeiros radiotécnicos foram preparados por ele, pelo correio. A segunda é o interesse em aprender e a disposição para o esforço exigido. Um bom exemplo tivemos com a Faculdade de Direito de Bauru, da Instituição Toledo de Ensino. No seu começo tanto havia alunos presenciais como alunos que compareciam uma vez por mês para receber orientação e realizar os exames, nada complacentes. Eminentes juristas, advogados, juízes, desembargadores e outros profissionais ali se formaram sem distinção dos que frequentavam ou não as aulas.
Contudo, o que é mais de se esperar, nesse ‘boom’ de oferta de EAD, o bom ou o mau exemplo? Ainda mais com as facilidades de selecionar e colar, oferecidas pela Internet. Em todo caso, se o Ensino Fundamental vier a merecer o tratamento devido, alguma coisa de bom sempre acontecerá.
O autor, Pedro Grava Zanotelli, é ex-presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas de Bauru e membro da ABLetras
FONTE: JCNET