Mulheres idosas são as principais vítimas de violência
"A violência intrafamiliar acontece em todas as classes sociais, e não são apenas os mais pobres que enfrentam o problema.
As famílias que possuem vínculos afetivos mais fracos são as que possuem os maiores índices de violência", destacou a pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Carelli (Claves/ENSP/Fiocruz) Edinilsa Ramos durante o painel Enfrentamento da Violência Intrafamiliar, realizado no 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2012).
A mesa contou também com a participação da professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Stela Meneguel e da representante da Área Técnica de Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde, Gilvani Pereira Granjeiro.
A atividade, coordenada também por Edinilsa Ramos, debateu a violência contra mulheres, idosos e as ações do Ministério para combater essas práticas.
A pesquisadora da ENSP abordou alguns estudos sobre violência desenvolvidos pelo Claves/ENSP e priorizou os casos contra a pessoa idosa. Segundo ela, essas situações estão de forma diretamente relacionadas à família.
“Considera-se abuso contra idosos qualquer relação que cause danos ou omissões a respeito deles”, explicou.
No âmbito da saúde pública, em específico no Brasil, o tema ganhou visibilidade na década de 1990, quando a preocupação com a qualidade de vida do idoso entrou na Agenda da Saúde Pública.
Porém, de acordo com Edinilsa, somente em 2003, 13 anos após a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a notificação de casos de violência contra idosos passou a ser compulsória com a criação do Estatuto do Idoso.
A pesquisadora apresentou algumas características da violência contra a pessoa idosa, entre elas, maus-tratos físicos e psicológicos, abuso financeiro ou material, abuso sexual, negligência, abandono, além do autoabandono e da autonegligência.
Ela expôs também alguns dados sobre os impactos da violência contra os idosos em 2010 no Brasil, quando 23.423 idosos morreram por acidentes e violências, o que significa uma média de 64 óbitos por dia.
Os homens representam a maioria nas taxas de mortalidade, sendo 62,5%.
De 2000 a 2010, o risco de um idoso morrer por violência e acidentes cresceu 23%, sendo 17,6% entre os homens e 34,8% entre as mulheres.
“A população de pessoas idosas do sexo feminino é muito maior que a masculina, e estudos apontam que os homens morrem mais cedo.”
No âmbito das internações, Edinilsa apontou que, em 2012, no Brasil, foram internados 160.781 idosos por acidentes e violências. Nesse caso, os homens representam 46,1% e as mulheres 53,9%.
“A relação dos acidentes por queda está intimamente ligada a situações de violência, pois, na maioria das vezes, esses idosos chegam à internação por causa de algum tipo de violência”.
Em seguida, a violência intrafamiliar, entendida como violência doméstica, também foi abordada pela pesquisadora. De acordo com ela, esse tipo de prática dentro do lar, nas interações entre pai, mãe, filhos e parentes não deve ser considerada natural. “
Cerca de 90% dos casos de violência ocorrem no seio da família e 2/3 dos agressores envolvidos nesses casos são cônjuges e filhos. Há forte associação nos casos em que o agressor físico e emocional usa drogas, aumentando em três vezes a incidência de violência”, observou.
Por fim, a pesquisadora descreveu alguns fatores de risco da violência contra a pessoa idosa, como problemas de saúde, relação com a família e o cuidador, além de questões sociais e ambientais.
Falta de esperança, alienação, desordem pós-traumática, sentimentos de culpa e negação da violência foram definidos como consequência dos maus-tratos.
“Cuidar é mais que um ato de atenção, é zelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação e responsabilidade, e de envolvimento afetivo com o outro”, destacou.
No âmbito da saúde, o cuidado está relacionado à prática humanizada e integral, articulada com um conjunto de princípios e estratégias que devem nortear a relação entre o paciente e o profissional de saúde.