Olhar clínico sobre a enfermagem

13/09/2012 14:23

A saúde pública brasileira vive problemas crônicos. No Rio Grande do Norte, a situação se agrava ainda mais com um decreto de calamidade pública, greve de servidores da saúde, hospitais superlotados e equipes médicas cada vez mais sobrecarregadas. Atualmente, existem no Brasil mais de 1,7 milhão de profissionais de enfermagem nos diferentes níveis (auxiliar, técnico e enfermeiro). No RN, são 22 mil profissionais que encaram diariamente uma extensa rotina de trabalho, sem um piso salarial fixado, nem mesmo carga horária semanal máxima. A fim de caracterizar os três níveis da enfermagem e as principais dificuldades da prática profissional, está em andamento em todo o país uma pesquisa chamada "Perfil da Enfermagem no Brasil", realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).


A maioria da população sequer sabe diferenciar os três tipos de profissionais, o auxiliar, o técnico e o enfermeiro graduado. Além disso, segundo a enfermeira da rede pública de saúde, Rhaíza Lorena Bertoldo, a sobrecarga não é só de atendimentos. O acúmulo de funções acaba comprometendo a qualidade do serviço prestado à população. "Às vezes nós somos obrigados a deixar de dar uma assistência porque tem que coordenar o serviço de um agente de saúde. O acúmulo de funções é muito grande e se eu pudesse definir em uma palavra o perfil da profissão, definiria como estressante", diz ela.

São queixas como essa e tantas outras que a pesquisa desenvolvida pela Fiocruz pretende registrar. Em cada estado brasileiro, um grupo de profissionais da enfermagem dos três níveis é sorteado, em amostragem, para responder a um questionário sobre quais as condições da prática da enfermagem, suas limitações, anseios e dificuldades. As informações que estão sendo colhidas até dezembro deste ano, servirão como base para as entidades de classe solicitarem dos gestores federais, estaduais e municipais políticas públicas para a melhoria das condições de trabalho do profissional de enfermagem. No RN, 515 enfermeiros foram selecionados, além de cerca de 610 técnicos e auxiliares de enfermagem.

A professora e coordenadora estadual da pesquisa da Fiocruz no RN, Nadir Vila Nova, explica que a identidade do profissional é preservada para que ele se sinta mais à vontade para responder com verdade e liberdade o questionário. Os questionários que estão sendo entregues, são diretamente encaminhados para o núcleo nacional da pesquisa, que tem como principal objetivo conhecer a situação atual da enfermagem no país, no recente contexto socioeconômico e político brasileiro. Na pesquisa são abordados o perfil sociodemográfico, onde o profissional atua, se no interior ou na capital, e ainda a formação acadêmico-científica do contingente de enfermagem.

Nadir Vila Nova adianta que as principais reivindicações dos profissionais de enfermagem são quanto a uma definição de um piso salarial para os três níveis, além de uma carga horária de trabalho de 30 horas semanais. "Muitos desses profissionais têm que conciliar vários trabalhos e fazer escalas dobradas diariamente para garantir sua renda no final do mês e isso compromete a qualidade do atendimento oferecido", conta a coordenadora estadual da pesquisa.

Segundo a coordenadora, a ideia após ser traçado o perfil da enfermagem no Brasil é lutar por políticas públicas e melhores condições de trabalho para os profissionais. A pesquisa resultará na produção de livros, onde cada estado receberá o perfil do seu profissional.

 

FONTE: DIÁRIO DE NATAL

https://www.diariodenatal.com.br/2012/09/09/cidades5_0.php